Não é mais novidade para ninguém que a população mundial está envelhecendo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2050, 22% dos habitantes do planeta Terra terão idade igual ou superior a 60 anos, somando 2 bilhões de idosos. No Brasil, a expectativa é de que, em 2050, o número de idosos chegue a 66,5 milhões, quase um terço da população.

Diante desse quadro, surge uma pergunta: sua cidade está preparada para os idosos? De acordo com dados levantados pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon para uma pesquisa que ainda será lançada em 2020, aproximadamente 65% das cidades do país ainda não estão preparadas para o envelhecimento de sua população.


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“Estruturalmente, as cidades têm um papel fundamental no bem-estar e na longevidade de sua população. Mas o que vemos são cidades despreparadas para o envelhecimento de seus moradores, com calçadas repletas de obstáculos e em péssimo estado de conservação, ônibus altos demais para o embarque de idosos, sinais de pedestre com um tempo bem inferior ao necessário para atravessar as vias, banheiros públicos sem os equipamentos necessários para o uso adequado da população idosa. Poderíamos ficar horas aqui pontuando todos os itens que passam despercebidos para quem não precisa deles, mas que impactam diretamente a longevidade e o bem-estar dos cidadãos com mais de 60 anos”, declarou Antônio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade.

Mas o que é acessibilidade?

Para o consultor em desenvolvimento urbano e habitação Cid Blanco Jr., antes de mais nada é preciso que se defina o conceito de acessibilidade que, a seu ver, vai muito além de questões como calçadas rebaixadas e prédios públicos com escadas rolantes e elevadores.

“Uma cidade acessível vai muito além de acessibilidade física. Para mim, uma cidade acessível é aquela que te oferece acesso à cultura, à saúde, ao transporte, à educação”, pontua. Mas se o assunto é acessibilidade física, ele defende que uma cidade acessível seria aquela que, minimamente, seus gestores pensem em como garantir o acesso à maior quantidade de pessoas possível. “Onde, pelo menos, os edifícios públicos e os códigos de legislação de novas construções exijam rampas, banheiros em locais ou prédios públicos com barras de apoio, piso tátil para os principais acessos, letras maiores nas sinalizações públicas e semáforos sonoros. É uma quantidade de coisas que beneficiam outros grupos que também têm direito a essa cidade, têm o direito de ir e vir, de usufruir, de ter acesso aos equipamentos”.

“Os governos brasileiros sempre foram negligentes com a acessibilidade como um todo. E não somente com a população idosa, mas com o cego, o surdo, o cadeirante, com as pessoas com dificuldade de locomoção”

Formado em arquitetura e urbanismo, Blanco Jr. explica que essas necessidades só começaram a se tornar evidentes à medida que a população idosa começou a crescer a ponto de ser notada.

“Os governos brasileiros sempre foram negligentes com a acessibilidade como um todo. E não somente com a população idosa, mas com o cego, o surdo, o cadeirante, com as pessoas com dificuldade de locomoção”, frisa o arquiteto. “E também é preciso pensar para além da população idosa e da que tem necessidades especiais já pré-estabelecidas, e incluir também aquelas pessoas com necessidades momentâneas, seja porque quebraram uma perna, porque torceram o pé ou fizeram uma cirurgia e precisam de um apoio para levar uma vida normal, tendo garantido os seus acessos”, acrescenta.

Em quanto tempo teríamos cidades preparadas para o envelhecimento da população?

De acordo com Antônio Leitão, ainda serão necessários investimentos substanciais em políticas públicas e nas mais diversas áreas para que as cidades possam ser consideradas “amigas dos idosos”.

“Falta visão e entendimento da questão. É preciso adaptar e transformar o espaço e os serviços para uma realidade onde uma parcela considerável da população é idosa, e os que ainda não são têm diante de si uma perspectiva de longevidade grande. Só assim vamos gerar mais oportunidades para os idosos”, destaca o gerente do Instituto de Longevidade.

Para Blanco Jr., é preciso investir em parcerias público-privadas, nas quais cada um dos agentes teria o seu papel claramente definido. Ele também propõe o cumprimento das legislações já existentes e a proposição de novas mais inclusivas, definindo deveres tanto ao ente público quanto ao privado.

“Novas obras públicas deveriam ter a garantia da acessibilidade, enquanto que obras antigas deveriam ter a obrigação de se adaptarem. O mesmo valendo para as obras da iniciativa privada. Se garantirmos recursos frequentes, acho que precisaríamos de umas duas gestões municipais – estamos falando aí de 4 a 8 anos – para tornarmos nossas cidades num nível aceitável de acessibilidade”, arrisca o consultor.

envelhecimento da população

Crédito: Marcel Derweduwen/shutterstock

De acordo com ele, esse tempo seria necessário para o cumprimento de algumas etapas, como o mapeamento das necessidades, a realização de todos os projetos e a licitação de obras, por exemplo. “Infelizmente eu não saberia mensurar de quanto dinheiro estamos falando, mas acho que é um dinheiro que tem um retorno tão grande”, enfatiza Branco Jr. “Devolver o direito ao acesso, ao livre ir e vir, à melhoria do transporte público, ao acesso aos equipamentos de cultura, saúde, educação. Vamos melhorar a vida das pessoas, não sei se 100% dessa geração de idosos de agora, mas com certeza da próxima geração”.

E com relação à Síndrome de Vira-Latas do brasileiro, Blanco Jr. observa que isso não acontece somente no Brasil e que o mundo está longe de ser um lugar perfeito. “Conheço várias capitais, como Lisboa, que é uma cidade com uma quantidade enorme de idosos, e que é super inacessível para essa população, com um monte de escadas para todos os lados, estações de metrô sem escadas rolantes e aquela pedra portuguesa que é um desastre pra qualquer velhinho. Dizer que somos super condenados, não vale”. E conclui: “O mundo não estava preparado para esse envelhecimento, ainda está se adaptando a esse momento”.

Iniciativas globais

A OMS criou a Rede Mundial de Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas”, projeto que tem como objetivo estabelecer relações entre as cidades participantes, bem como entre elas e a organização; facilitar o intercâmbio de informação e boas práticas; fomentar intervenções apropriadas, sustentáveis e custo-efetivas para melhorar a vida das pessoas idosas; e proporcionar apoio técnico e capacitação. 

Receber a certificação de Cidade Amiga da Pessoa Idosa é um reconhecimento ao compromisso da cidade ou da comunidade em trabalhar, não apenas em benefício da população idosa, mas de pessoas em qualquer idade, desenvolvendo e adotando políticas, serviços, ambientes e estruturas que permitam melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas à medida que elas envelhecem. 

Clique aqui para acessar o Guia Global: Cidade Amiga do Idoso da OMS.


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