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Em 2010, aos 36 anos, Sōichirō Takashima se tornou o prefeito mais jovem da história da cidade japonesa de Fukuoka. Antes, já era bastante conhecido na região por seu trabalho na TV como apresentador de um programa de entrevistas. Foi reeleito em 2014 com um número recorde de votos.

Durante seu mandato, a cidade foi designada pelo governo como Zona Especial Estratégica Nacional, para encorajar a criação de startups e de empregos. O prefeito tem sido uma força motriz nos esforços para transformar Fukuoka num centro tecnológico inovador e numa cidade vibrante e habitável para pessoas de todas as idades.

Quais foram as motivações ou influências que o levaram a promover políticas públicas e soluções inovadoras para criar uma sociedade sustentável e habitável?

Eis um exemplo específico. Seis anos atrás, quando fui a Hong Kong, eu podia usar Wi-Fi de graça no aeroporto. Acreditei que esses avanços tecnológicos iriam se tornar um padrão global. Consequentemente, fomos a primeira cidade no Japão a começar a oferecer Wi-Fi grátis no metrô e em todos os destinos turísticos em Fukuoka.

Também conseguimos lançar vários esforços com base em números e dados, incluindo a aplicação de big data [conjunto de dados coletados em meios como celular, redes sociais e dispositivos]. Essas são as tecnologias que vão nos permitir criar uma sociedade sustentável, que, com eficiência, possa lidar com o envelhecimento da população.

Se pudermos combinar isso com a cooperação e a construção de relações na comunidade, teremos condição de maximizar o nível de felicidade em nossa cidade. Os cidadãos de Fukuoka desejam inovação. Isso os levou a me escolher como prefeito. E nossas iniciativas atuais são consideradas mais ou menos um salto, não uma extensão do passado.

O que é a iniciativa chamada "Living Lab"?

A iniciativa implica a criação de um produto através da colaboração de cidadãos, empresas, ONGs e governo. Fukuoka não é uma megacidade, como Tóquio ou Xangai. Uma cidade como a nossa, com 1,5 milhão de habitantes, pode ser supervisionada pelo governo com mais eficiência. Fukuoka tem muitas características vantajosas, incluindo uma crescente taxa de novas empresas, o envolvimento ativo da comunidade e a habilidade e a disposição do governo em fazer adaptações.

Nós nos perguntamos qual é a maneira mais eficaz de criar e manter nossa cidade. Através desse novo modelo, o objetivo é criar uma sociedade melhor, que se divirta colaborando com diferentes atores para resolver problemas e enfrentar novos desafios.

 “Nossas iniciativas são o que outras regiões precisam agora”

Fukuoka tem como meta se tornar uma cidade de experimentação social. Acredito que estamos atraindo atenção porque nossas iniciativas são o que outras regiões precisam agora. Somos motivados pela nova demografia – menos contribuintes e mais beneficiários de assistência social, devido a uma sociedade envelhecida –, que nunca experimentamos antes.

A questão principal é: como uma cidade pode avançar enquanto aplica essas soluções inovadoras rapidamente? Talvez não apenas o restante do Japão, mas todo o planeta, esteja esperando por essa resposta.

Cada vez mais jovens e famílias estão se reunindo em Fukuoka agora. Como isso está impactando não apenas a geração mais jovem, mas também os cidadãos mais velhos?

Fukuoka preza o que é chamado de kyoso [cocriação]. Até agora os kyosos foram iniciativas de base lideradas pelos idosos. Atualmente, estudantes universitários e trabalhadores da região também fazem parte, resolvendo novos desafios juntos. Eles demonstram o espírito de colaboração.

Por exemplo, há um alto número de startups em Fukuoka. Elas encontram um problema específico na comunidade e se esforçam solucioná-lo por meio de um novo modelo de negócios. Temos percebido movimentos como esse aqui. Exemplos de negócios incluem um serviço que combina consumidores e equipe de limpeza, que pode fazer faxina semanalmente.

Fukuoka também tem usado inteligência artificial e análise de big data para identificar certas características na cidade e descobrir a solução mais eficiente para um problema específico. Com a proliferação de sociedades envelhecidas, começaremos a ver um alto número de pacientes com demência. Famílias experimentam desafios significativos quando um membro tem demência, dada a tendência que ele tem de vagar sem rumo.


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A cidade tem implementado o que é chamado de “roller band”, que pode receber sinais de Internet das Coisas [IoT; a interconexão, pela web, de dispositivos computacionais embutidos em objetos, permitindo que eles enviem e recebam dados]. Se você simplesmente implantar um chip de rastreamento em algo que os pacientes possam vestir ou usar em seus corpos, será capaz de usar essa tecnologia para localizá-los, onde quer que estejam na cidade. Essas são algumas ideias com as quais temos trabalhado.

Qual é o exemplo de um desafio que você enfrentou ao implementar suas políticas e como o superou?

Normalmente, o prefeito de Fukuoka tem autoridade sobre a legislação municipal. Mas quando com leis nacionais ou portarias da província, não podemos fazer nada, exceto obedecê-las.

No entanto, a cidade desenvolveu uma maneira de combater isso nos últimos anos, implementando a “zona de estratégia nacional especial”. Ao atingir esse status, Fukuoka pode agora desregulamentar tal lei ou decreto que restringe o desenvolvimento de novos modelos de negócios ou produtos e propor regulamentos alternativos.

Que tipo de inovações ou soluções são necessárias no Japão e em Fukuoka para atender às necessidades de uma sociedade em envelhecimento?

Posso falar sem parar sobre a sociedade em envelhecimento, então vou resumir para você. Pegue o problema do aumento de beneficiários de assistência social. Quando um governo tenta criar um modelo sustentável em resposta a uma crescente população em envelhecimento, cortando benefícios, o grupo de idosos reagirá negativamente. Ao mesmo tempo, se mantivermos o montante de benefícios para idosos, incluindo aposentadorias, isso sobrecarregará imensamente a geração mais jovem. E isso não é nem sequer sustentável.

Então, a questão é aumentar o fardo para idosos ou jovens. De qualquer forma, você terá oposição. Em outras palavras, não há forma de fazer isso funcionar usando os métodos tradicionais que já existem.

 “Ao fazer com que os cidadãos ajudem e apoiem uns aos outros, podemos criar várias ‘redes de segurança’”

A solução implica inovação. Eu pessoalmente vejo a importância de tal inovação. E a segunda solução é o uso proativo da tecnologia, como IoT, TIC [tecnologia de informação e comunicação] e big data, bem como o uso de métodos baseados em evidências.

A terceira solução é a unidade na comunidade, incluindo kyoso e colaboração. Esse conceito de zelar pelo vizinho não é simplesmente olhá-lo, mas também ajudá-lo em momentos de necessidade. Ao fazer com que os cidadãos ajudem e apoiem uns aos outros, podemos criar várias “redes de segurança” que nos permitirão criar uma sociedade sustentável, mesmo quando o número de contribuintes diminui e o de beneficiários aumenta.

Para implementar essas soluções em uma era na qual as pessoas tendem a viver 100 anos, a cidade lançou um programa chamado Fukuoka 100, uma coleção de cem projetos que serão desenvolvidos com a colaboração de cidadãos, empresas, academia e a prefeitura. Trata-se de um programa de ponta, abrangente e inovador, que não tem sido visto em nenhuma parte do mundo. Ao ter cem ideias para implementar, nosso objetivo é dar passos largos para nos tornar uma nova cidade-modelo no mundo.

Entendemos que as características únicas de Fukuoka, como ter uma rede de colaboradores comunitários, tem contribuído para seu sucesso. O sr. acredita que as mesmas iniciativas ou abordagens funcionarão em qualquer lugar do mundo?

Cada região do mundo tem suas próprias características. Dessa forma, não é possível aplicar o modelo de Fukuoka para todo e qualquer lugar. No entanto, você pode selecionar alguns de nossos cem projetos para implementar em sua cidade e, ao combiná-los com iniciativas já existentes, estou certo que isso servirá como um recurso valioso para cidades que estão tentando descobrir algo por conta própria. Acredito que certas iniciativas e qualidades de Fukuoka podem ser exportadas para outros lugares.

“O maior risco para a nossa comunidade é não fazer nada”

Você se considera uma pessoa que assume riscos? Ou isso faz parte do trabalho?

A melhor maneira de um prefeito evitar riscos é não fazer nada. É mais seguro apenas visitar e se apresentar num fórum público ou num festival local, mas isso representa um risco para a própria cidade. O melhor que você pode dar à cidade é a velocidade com a qual você pode fazer as coisas. O maior risco para a nossa comunidade é não fazer nada.

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