O aniversário de São Paulo, no dia 25 de janeiro, celebrará os 466 anos dessa cidade que é uma senhora de grande imponência. E, quando pensamos na questão da longevidade saudável para seus habitantes, precisamos levar em conta que a própria metrópole também precisa envelhecer com qualidade – e sabendo se renovar no que diz respeito à solução de problemas urbanos.

Assim, a data comemorativa é uma ocasião propícia para fazermos um check-up da capital paulista, com o intuito de identificar os pontos em que sua saúde vai bem e quais aqueles que demandam mais cuidados para garantir o bem-estar de seus mais de 45 milhões de habitantes – população da cidade estimada em 2019 pelo IBGE.

O Índice de Desenvolvimento para a Longevidade (IDL), resultado de uma parceria entre o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Faculdade Getulio Vargas (FGV/EAESP), revela algumas das facetas de São Paulo, tanto em relação a itens positivos como sobre seus pontos que precisam melhorar para dar uma melhor qualidade de vida aos seus idosos.


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De um lado, é preciso destacar o que “Sampa” tem de melhor entre os quesitos avaliados pelo IDL. Assim, os indicadores favoráveis da metrópole são a renda da população de idosos; o acesso à rede de esgoto; o número de docentes para a educação de idosos; a quantidade de matrículas de idosos para a educação de jovens e adultos; o número de enfermeiros; e a frequência relativamente menor de diversos tipos de violência – sexual, doméstica e de tortura, entre outras – e de agressão à vida.

No entanto, de acordo com o IDL, São Paulo deixa a desejar em relação a número de leitos do SUS (Sistema Único de Saúde), número de atendimentos de emergência, quantidade de estabelecimentos de atividade de condicionamento físico, incidência de hipertensão arterial entre os habitantes de 15 anos ou mais de idade e taxa de desemprego.

Fundo Municipal do Idoso

No que lhe diz respeito, os “cuidadores” dessa senhora quadricentenária que é São Paulo apresentam dados sobre o que tem sido providenciado pelo poder público para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, especialmente a dos mais maduros.

Segundo Sandra Regina Gomes, coordenadora de Políticas para Pessoa Idosa da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, um grande passo para a criação de melhorias urbanas que visam aos mais longevos foi a implementação definitiva do Fundo Municipal do Idoso em 2019.

“Seus recursos serão usados para financiar cerca de 60 projetos de atendimento à população idosa a partir de março deste ano”, diz. Em torno de R$ 2 milhões estão disponíveis pelo fundo com essa finalidade, provenientes de doações de pessoas físicas e jurídicas.

De olho na educação

Os projetos em questão, explica Sandra, estarão direcionados para pessoas em situação de maior vulnerabilidade social. Serão conduzidos em parceria com organizações da sociedade civil (OSCs) e gerenciados pelas secretarias municipais aos quais estiverem relacionados – como as de Saúde, Mobilidade e Transportes e Educação.

E, por falar na seara educacional, a coordenadora menciona que uma das demandas dos idosos que vivem em São Paulo é a de capacitação financeira. “Há muito o que orientá-los nesse sentido”, diz. “Muitos filhos e netos acabam explorando os mais velhos por conta de suas aposentadorias, além do assédio que sofrem para a contratação de crédito consignado.”

A prefeitura, então, passará a oferecer cursos gratuitos de educação financeira aos 60+. Também estão previstas oficinas de outros temas em dez espaços localizados em bairros da periferia. “Deverão ser 1.000 vagas por mês para os idosos dessas regiões”, dimensiona Sandra. As aulas começam em fevereiro no Polo Cultural da Terceira Idade (r. Teixeira Mendes, 262, Cambuci) – mais informações podem ser obtidas pelo telefone 11/3207-9713) ou no site.

Espaços de convivência

Em termos de acolhimento, uma grande preocupação da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania é fomentar a criação de centros-dia, espaços para a permanência diurna dos mais velhos com a realização de atividades de integração.

“Hoje há 16 desses centros em São Paulo”, informa a coordenadora de Políticas para Pessoa Idosa. “Cada um deles atende cerca de 30 idosos, e cada indivíduo custa cerca de R$ 80 mil por mês para o município. Mas precisamos de um número muito maior de espaços desse tipo. São Paulo tem 96 bairros, e o ideal seria que todo bairro tivesse o seu centro-dia.”

O poder municipal oferece ainda 16 instituições de longa permanência para idosos, algumas com capacidade para atender 30 pessoas, e outras, para 60, enquanto 91 núcleos de convivência de idosos espalhados pela capital beneficiam 12 mil cidadãos.

Por sua vez, Cidade Tiradentes, na zona leste, e Vila Clementino, na zona sul, receberam a classificação de Bairro Amigo do Idoso. Com isso, melhorias como a iluminação das calçadas são viabilizadas em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), algo já efetivado na Vila Clementino e planejado para Cidade Tiradentes.

Em busca de mobilidade

Aliás, na percepção de Sandra Regina Gomes, um dos aspectos que merecem atenção especial e “uma mudança de olhar por parte da cidade” é o da mobilidade. E esse campo também tem sido alvo das iniciativas da prefeitura, segundo ela. “Da frota municipal de ônibus, 90% dos veículos são acessíveis”, calcula. “Agora temos atuado na capacitação de motoristas e cobradores no trato com os mais velhos.”

aniversário de São Paulo

Crédito: Matyas Rehak/Shutterstock 

Essa é mesmo uma questão a ser trabalhada, na opinião de Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, organização da sociedade civil que atua por uma cidade mais justa, democrática e sustentável. “As pessoas mais velhas que vivem na capital paulista têm dificuldade para subir nos ônibus e descer deles”, aponta. “É necessário institucionalizar esse tipo de cuidado com essa população.”

Problemas relacionados à acessibilidade, em sua avaliação, “inibem essas pessoas de circular pela metrópole para fazer coisas, visitar amigos”. “É preciso zelar pelas calçadas”, reforça. Sandra Regina diz que, no quesito locomoção, há ações previstas também para o metrô. “O projeto Experiente Cidadão tem como objetivo orientar os idosos para que utilizem mais esse meio de transporte”, afirma.

Trata-se de um programa que organiza visitas monitoradas e gratuitas do público 60+ às instalações do metrô, incluindo vagões e estações. Busca-se sensibilizar esses usuários em relação ao uso correto e seguro desse meio de transporte, com orientações que incluem aspectos como o distanciamento existente entre a plataforma e o trem. "A meta é a prevenção contra quedas e acidentes dentro do metrô", conta a coordenadora da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São Paulo.

Aniversário de São Paulo: cidade inclusiva para todos

Ficar mais velho realmente é uma oportunidade para se reinventar em termos de hábitos e valores. Esse pensamento se aplica para uma senhora de 466 anos. “Há muito a ser feito para que a metrópole seja mais calorosa e acolhedora”, considera a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, lembrando que, na verdade, existem muitas cidades dentro do território paulistano. “A qualidade de vida varia muito de uma para outra”, sentencia.

“Temos trabalhado bastante por uma cidade mais inclusiva para todos, mas ainda é preciso fazer muito mais”, conclui Sandra Regina. Assim, ao cantar parabéns no aniversário de São Paulo, atenção à parte que diz “é pique, é pique, é pique”: de fato, é preciso muito ânimo na mobilização por uma cidade sempre melhor.

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